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ENTRE NÓS
Entre Olhares: Qual é um filme, ou um autor, que seja para ti um guilty pleasure ?
Bruno Teixeira: Pois, não sei, o conceito é um bocado assim, estranho, não é? Porque se eu for falar de um realizador importante para mim, isso aí é o Godard, sem dúvida. Agora, um realizador assim um bocado mais estranho, o que é que eu posso pensar?
Entre Olhares: Ou um filme, uma recomendação.
Bruno Teixeira: Epá, há tantos filmes no mundo, não é? Não faço ideia, assim de repente. Pode ser que eu chegue lá. (risos)
Entre Olhares: Qual é que foi o filme, desta sessão (Curtas à Primeira Vista 1), que tu gostaste mais?
Bruno Teixeira: Desta sessão? Foi o último, o "Banho Santo" (2020) [de Bruno Saraiva]. Gostei propriamente do clima, digamos assim, da atmosfera do filme, ali aquele bosque meio abandonado e tal. Aliás, até foi um bocado estranho para mim, porque eu já vi alguns filmes da Lusófona, também por causa de uma outra mostra de cinema português que organizo em Vila Franca, e recebemos também já filmes da Lusófona, e normalmente são filmes assim sempre… ou são muito estranhos, ou se calhar às vezes também comerciais demais… mas este não, este foi muito diferente, não estava à espera sendo da Lusófona, e portanto, foi uma surpresa curiosa.
De qualquer maneira, também gostei muito daquele da Rita [Brás], o "Visões de Copacabana" (2021), principalmente por causa da mistura entre imagens de arquivo e as imagens que ela filmou. Também foi curioso - por acaso já não falei com ela - mas gostava até de tentar perceber o quão complexo foram aquelas filmagens em Super 8, não é? Porque não sei como é que aquilo antes era trabalhado, porque também nunca trabalhei com película, sinceramente…
Entre Olhares: Mas gostavas?
Bruno Teixeira: Eventualmente. Não acredito que seja muito fácil. E também, embora perceba da área de imagem, não é, digamos, aquela em que estou com mais conhecimentos, se calhar, para tal. Portanto, também não sei se seria fácil, se calhar só arranjando um diretor de fotografia específico.
Entre Olhares: Então e qual é o filme que as pessoas precisam de ver antes de morrer?
Bruno Teixeira: Bem, um filme antes de morrer… (risos)
Entre Olhares: Ou um que significou muito para ti, que foi alguma inspiração bastante importante?
Bruno Teixeira: Bem, se calhar para não estar a pensar muito, vou falar de um que vi agora mais recentemente que é importante na história do cinema, mas eu nunca o tinha visto, que é o "Lamento da Vereda" (1955) de Satyajit Ray. É um filme que não deve ser muito conhecido propriamente em Portugal, até porque está esgotado nas vendas, aliás eu para o encontrar tive que ir à própria Costa do Castelo comprar o DVD. (risos) Mas gostei muito, e digamos que é muito importante por causa de ser uma primeira obra e não há muitos casos de primeiras obras que estejam tão bem conseguidas quanto isso, acho eu.
BRUNO TEIXEIRA
REALIZADOR "VILA FRANCA EM CARTOON"
Se calhar a única exceção - há de haver mais exceções - mas, de repente, é o "Citizen Kane" (1941) de Orson Welles. Mas este também é muito bom, e curiosamente ele também o fez, pelo que eu percebi quando fiz uma pesquisa, praticamente sem financiamento. Fez ele próprio o financiamento inicialmente, mas depois precisou do financiamento do governo de Bengal. Mas, de qualquer maneira, é um filme muito interessante porque usa, sobretudo, exteriores naturais, que é uma coisa que eu aprecio muito no cinema, porque gosto muito do neo-realismo e esse filme também acho que tem um bocado a consequência do neo-realismo. Ele é dos anos 50 e, o próprio realizador, segundo o que eu li na entrevista, esteve a viver uns meses em Londres e viu uma data de filmes e um deles, que ele fala logo como influência, é o "Ladrões de Bicicletas" (1948) [de Vittorio de Sica]. Portanto, isso nota-se de facto no filme, e é muito curioso também o próprio tratamento da infância.
Entre Olhares: Onde é que os teus filmes vão estar a seguir?
Bruno Teixeira: Este que eu passei aqui, o "Vila Franca em Cartoon", já é um bocadinho antigo, já é de 2019, ainda de pré-pandemia. Não passou assim em muitos sítios porque, de facto, não ficou muito bem conseguido tecnicamente. De qualquer maneira, ele foi selecionado agora para um outro festival em Almeirim, que é o 3in1 Film Festival, penso que é assim que se chama. Ainda não percebi muito bem como é que aquele festival funciona, francamente, porque no site deles também não está muito claro, mas vou tentar perceber. (risos) E foi também selecionado para um festival qualquer internacional mas também já não me lembro qual é…
Depois tenho um outro filme, de longa-metragem, que foi o projeto de conclusão de mestrado, que é o "Ecos da Vermelha" (2021), que já estreou no IndieLisboa e agora vai passar no Caminhos de Cinema Português, no dia 23 de Novembro. De qualquer maneira, também obrigado ao Cine Clube do Barreiro por estas sessões de filmes, que eu não posso aproveitar tanto quanto queria. (risos) Mas esta foi a segunda sessão nacional do filme, só o passei em Vila Franca para além daqui, portanto também foi interessante para perceber outro público e acho que resultou bem, apesar de tudo.
Qual é que era a pergunta que eu deixei sem resposta? (risos)
Entre Olhares: Foi o guilty pleasure. (risos)
Bruno Teixeira: Ah! Pela palavra em si, se calhar o Lars von Trier, porque é de facto um realizador chocante. Não vi todos os filmes dele, mas já vi vários. "Ninfomaníaca" (2013) é, para mim, uma obra-prima, embora seja muito pesado. Agora veio-me à cabeça o [Charlie] Chaplin, não sei porquê, comecei a pensar nele, mas não tem nada a ver. (risos)
Mas pronto, também gosto muito do Chaplin, de todos os filmes e, curiosamente, gosto mais dum filme que eu acho que não é assim tão apreciado quanto isso, que é "Um Rei em Nova Iorque" (1957), que é já o penúltimo filme dele, se não me engano.
Entrevista de Ana Rita Nobre
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