De Xangai para o Barreiro
- festivalentreolhares
- Sep 15
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O novo filme do realizador António Ferreira, “A Memória do Cheiro das Coisas”, integra a seleção oficial na secção competitiva do Festival Entre Olhares, onde irá competir pela Garça de Ouro. A obra, um drama íntimo e profundo, mergulha em temas de envelhecimento, trauma e reconciliação.
António Ferreira, cujo trabalho já foi reconhecido em Cannes, com “Respirar Debaixo d’Água”, tem uma vasta experiência em cruzar narrativas pessoais com questões sociais e familiares. Neste novo projeto, o realizador foca-se numa das realidades mais prementes de Portugal: o envelhecimento da população, e é neste contexto que a história de Arménio, protagonista do filme, se desenrola.
Arménio, um veterano da guerra colonial, é “admitido” num lar de idosos. Este homem, com a sua carapaça de dureza forjada pelo trauma da guerra, vê-se numa situação de vulnerabilidade, sendo forçado a confrontar não só o declínio físico, mas também os fantasmas de um passado que o assombra. A complexa relação com a guerra colonial, em que o "inimigo" era o “terrorista negro”, é o pano de fundo para a tensão inicial do filme.
A narrativa ganha uma camada extra de profundidade com a introdução de Hermínia, a cuidadora de Arménio. O facto de ser uma mulher negra, e portuguesa, é uma escolha deliberada de Ferreira para desafiar os preconceitos enraizados na sociedade. Esta decisão reflete uma realidade visível nos lares de idosos, onde muitos dos cuidadores são imigrantes, que assumem a árdua tarefa de cuidar da nossa população idosa. Para dar mais autenticidade à narrativa, o filme integra “cenas documentais” gravadas em lares de idosos reais, misturando a ficção com a realidade e conferindo um tom mais cru e sincero à obra. Resta aguardar a exibição no Festival Entre Olhares para ver como a história de Arménio e Hermínia irá ressoar no público.



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